Pois é. Cá estou eu, há exatos 12 dias experimentando minha dose diária de necessidade de paciência. Foram longos 26 anos para descobrir que, definitivamente, não tenho em estoque.
A vida é incerta. Nós somos incertos. Em uma semana você está a mil, fazendo planos de como concluir mais e mais encomendas handmade, programando uma visita aos pais, uma caminhada no parque talvez. E então, subitamente, um papel tranca sua passagem para o mundo além do portão: ISOLAMENTO. A gratidão, claro, ela é imensa, quando você assiste diariamente nos telejornais notícias de centenas de mortes em razão dessa praga tão cruel, que para os íntimos, 'Corona', e em meio a tudo isso você está bem, sua família está bem, tudo está bem. Está bem? Na verdade não, não está bem.
O ser humano, na realidade, só consegue realmente dar o devido valor à liberdade quando dela é privado. Quem não se lembra daquele combo com um hambúrguer suculento e batatas crocantes quando está faminto. Quem não lembra o quão incrível é o sol e o frescor das folhas caindo enquanto caminha, após uma semana chuvosa e fria? (Não que eu não ame!). Quem não lembra o quão aconchegante é o abraço de um pai após trinta dias afastado. A questão está no valor. Qual o real valor que damos na imediatalidade das coisas. Existimos diariamente em várias experiências e situações, sim existimos, raramente vivemos. Viver vai além de estar, é ser e digerir cada momento, cada palavra. Guardar dentro de si cada pedacinho que sabemos que vamos querer resgatar posteriormente. Isso é a vida. Isso é o propósito da vida.
Às vezes a vida nos permite situações, como um isolamento, como uma chuva, para nos mostrar o real valor que damos às coisas. E quando a chuva passar e o sol vier? E quando a alta médica vier? Vai ser diferente? Sabe, queria afirmar aqui que sim, mas, infelizmente, a ótica humana parece já vir programada com seus mal costumes, e, possivelmente tudo voltará ao normal. Ao 'novo normal' tanto dito, onde talvez vamos querer apagar esse momento ruim e viver como antes.
Mas e se mudássemos? E se pensássemos diferente e fossemos contra a maré da mediocridade humana? Ah, tenho certeza, aí seríamos FELIZES!